notas & noções 23 (2ª série)
… racismo subsistémico
»»»»» A civilização branca ocidental não deixa os naturais negros serem, tão só serem e apenas. São seres, os negros afro-americanos, também os afro-portugueses, que estão existencialmente na defesa, constantemente compelidos a justificarem e a defenderem a sua identidade, sentindo-se não raro mal com essa identidade, são assim seres que existem na defesa — compelidos a: ou “integrarem-se” ou “rebelarem-se”, conforme os seus temperamentos e raízes étnicas diversas.
»»»»» O que estou a assinalar é que, mais do que o “racismo sistémico”, que os comentadores e analistas norte-americanos apontam como base estrutural da sociedade estado-unidense, podendo o mesmo aplicar-se à sociedade portuguesa, há um racismo subjacente e mais insidioso, um racismo subsistémico de natureza existencial. Um exemplo poderoso deste racismo subterrâneo encontra-se num filme esplendorosamente clássico do cinema produzido em Hollywood: refiro-me a Imitation of life (Douglas Sirk, 1959). Neste filme, o drama pungente que a rapariga de origem negra vive é que quer parecer e viver como branca, resiste a viver a vida moldada para os negros. Tal resistência provoca tropeços sociais, frustração individual, sendo causa do sofrimento e morte prematura da mãe.
António Sá
[02.03.2021]
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